Quando se reflete sobre educação, ou mesmo sobre uma boa educação, sempre há muito o que se considerar e, não há dúvidas, sobram controvérsias sobre o assunto.

Esses dias especiais têm esse mérito, nos trazer ainda mais à reflexão sobre determinado tema.

Ao fazê-lo, fui desafiado ao confronto com os meus valores, minhas ideias, minhas convicções. Fui desafiado a pensar a educação a partir do contexto e das crenças cristãs. O que alguns se referem à educação cristã como sinônimo de discipulado.

A oração educa

Eu oro porque não posso ajudar a mim mesmo. Eu oro porque sou indefeso. Eu oro porque a necessidade flui de mim o tempo todo, andando e dormindo. Isso não muda Deus, muda a mim…” (C.S. Lewis)

Como dimensionar a importância da oração na vida do crente? Quando tratamos da resposta humana ao chamado de Deus, é lá onde tudo começa. Ela é o ambiente onde o Espírito Santo atua em nós, educando-nos para a vida no Reino. A propósito, ‘educação’ vem do latim educare, que significa ‘direcionar para fora’. O educador cristão tem em Jesus Cristo (pessoa, obra e ensino) e em toda a revelação bíblica o paradigma maior. É aquele que nos apresenta ao mundo tal como ele é, a partir de uma perspectiva cristã; nos ensina a viver a vida no espaço das relações sociais e em toda a sorte de ambientes de expressão da nossa humanidade. Para um discípulo de Jesus, a educação sempre terá início na oração.

É verdade, a temática da Educação Cristã traz em seu escopo uma série de eixos e ênfases, tão necessários à consideração. Desde o conteúdo curricular usado na Escola Bíblica Dominical, ou àquilo a que chamamos de discipulado, até a instrução formal a partir de uma cosmovisão cristã. Todavia, não é possível negar que toda essa informação, ainda que valiosa em seus pressupostos e argumentos, só se fará plena de significado a partir de um coração submisso a Deus.

Não surpreende, portanto, que em meio à preciosa descrição de virtude moral e ética social, presentes no Sermão do Monte (Mt 5 a 7), um lugar de destaque tenha sido dado à oração. No ensino sobre o tema, Jesus faz distinções entre forma e conteúdo, aparência e essência e nos apresenta o caminho até a presença do Pai, onde chegamos com todos os nossos vícios e as nossas cargas. Por isso, a educação cristã, a rigor, começa na presença de Deus. Coram Deo, é a expressão em latim traduzida por ‘na presença de Deus’. Traz a ideia de se viver sob a autoridade e para a honra e glória de Deus. Na caminhada cristã, vamos nos apropriando do jugo do Mestre e nos desfazendo das nossas cargas pessoais. No sermão do Monte, Jesus nos apresenta o que é uma vida vivida sob a dinâmica do Espírito Santo de Deus, onde a oração desempenha um papel crucial. Na oração do ‘Pai nosso’, os discípulos de Jesus são educados a uma vida no Reino, debaixo da autoridade soberana do Deus que é Pai, e que já supriu em Cristo todas as necessidades de Seus filhos.

Na oração do ‘Pai Nosso’ (Mt 6:9-15) Jesus apresenta um modelo que nos oferece pistas para essa relação com Deus, pela oração. O Reino de Deus é o Seu governo soberano sobre todas as coisas (vs.13b). No Reino de Deus, todos têm acesso ao pão – o básico para a subsistência humana – todos os dias (vs.11). No Reino de Deus há perdão e reconciliação como fundamento para a vida (vs.12). No Reino de Deus não cabe o fatalismo; a nossa fé não permite o desespero. Somos, portanto, movidos a esperança. A graça nos dá poder para vencer o mal com o bem (vs.13a).

A oração é o fundamento da educação cristã, porque nela somos humilhados e Deus exaltado. A oração desloca-nos de um eixo de auto-centralização e nos lança em direção a Deus e ao nosso próximo; escancara-nos um mundo à nossa volta e denuncia que não somos nós a alavanca que o move. A oração aperfeiçoa-nos na reverência e revela-nos que a atitude virá sempre antes da ação. A oração educa-nos para a vida, fertilizando o terreno onde será colhido, mais tarde, o fruto do Espírito.

Por uma educação cristã que nasça, sempre, da oração e, assim, honre a Cristo.