“Veja como ela fala bem, quando crescer vai ser advogada!”. Esta frase ouvida aos cinco anos influenciou, em grande parte, a forma como tenho me relacionado nos últimos 45 anos, ou seja, falar não é problema para mim. Percebo que na época interpretei esta fala como um elogio pela minha desenvoltura no falar; por conseguinte, entendi que se continuasse falando bem eu seria aceita pelas pessoas e receberia novos elogios. Preocupada em falar bem, desenvolvi pouca habilidade em ouvir aos outros, pois, para uma escuta eficaz é muito importante interromper nossas falas internas e externas. O silêncio é vital num diálogo, pois permite que o outro fale e seja de fato escutado.
Hoje entendo que a comunicação humana tem dois aspectos: falar e escutar. Como líderes, pastores e pastoras, geralmente pensamos que o falar é mais importante e que pelo fato de alguém falar muito bem e de forma clara será bem escutado. O fato de falar algo não significa necessariamente que o outro escutou. Nós costumamos agir como se existisse uma escuta plena, garantida em nossas conversas, principalmente nas relações familiares ou de ajuda em grupos de cuidado mútuo, mentoria e aconselhamentos.
Precisamos começar a aceitar que não sabemos escutar e que muitas vezes não somos escutadas do jeito que gostaríamos.
Já em 1990 Peter Drucker escreveu: “Muitos executivos pensam que são maravilhosos com as pessoas porque falam bem. Não se dão conta de que ser maravilhoso com as pessoas significa escutar bem”.
Em que consiste saber escutar? Saber escutar passa por reconhecer que temos um mundo emocional e relacional que afeta nosso falar e escutar. Por vezes esquecemos que somos diferentes uns dos outros, não só porque nascemos em lugares diversos ou temos histórias singulares, mas porque fazemos interpretações particulares das falas que ouvimos. Para garantir uma escuta eficaz numa conversa com o outro eu preciso, em primeiro lugar, escutar a mim mesma buscando estar consciente de quem estou sendo na relação, perceber se estou de fato disponível para escutar o outro e ouvir as conversas que acontecem dentro de mim por meio de pensamentos e emoções sobre o assunto ou sobre a outra pessoa.
Saber escutar é reconhecer que o escutar não é passivo. Na Palavra de Deus, Tiago nos adverte: “Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus”. Estar “prontos para ouvir” demanda um fazer de minha parte que me prepara para uma escuta eficaz. Um dos problemas com a escuta é que ela frequentemente é confundida com não fazer nada.
Escutar é um fazer! Preciso estar pronta para ouvir e, para isso, preciso escutar a mim mesma, escutar meu mundo emocional, minhas conversas privadas em meu interior, pausando por um momento o que está acontecendo comigo para me dispor a escutar a fala do outro. Caso contrário, produzimos a fantasia de escutar ao outro quando estamos, basicamente, escutando a nós mesmos e não a fala do outro. É frequente ouvirmos: “Não me sinto escutada!”.
Promovermos um ambiente de acolhimento que estimule o falar e o escutar eficaz nos ajuda a desenvolvermos uma crescente percepção de nós mesmas e dos próprios sentimentos.
Ao homem que estava deitado por 38 anos no tanque de Betesda esperando por um milagre de cura para sua doença, Jesus pergunta o que ele quer. Parece desnecessária esta pergunta, uma vez que era visível sua deficiência física. Porém, a atitude de Jesus leva o homem a refletir sobre o que realmente quer e a sua responsabilidade no seu processo de cura. Diante da possibilidade de cura, o paralitico falou de obstáculos intransponíveis e culpava os outros por sua infelicidade. Numa conversa posterior, Jesus o encontra no templo e, ao dizer para ele não pecar mais para que algo pior não lhe sucedesse, o responsabiliza por sua doença e sofrimento. Jesus o leva a enxergar em si mesmo a causa dos seus problemas.
Uma escuta eficaz e boas perguntas: duas habilidades que nos ajudam a permanecermos saudáveis nas relações de ajuda. Os grupos ou relacionamentos de pastoreio mutuo e mentoria de pastores, pastoras e cônjuges ou pequenos grupos na igreja local podem promover este ambiente de escuta eficaz e de boas perguntas resultando em crescimento em todas as áreas de nossa vida.