Em 2015 escrevi uma série de artigos sobre a caminhada de João Marcos, como jovem líder, pensamos em cada fase do seu processo e fizemos algumas aplicações práticas. Em 2016 vamos nos concentrar na jornada de Josué ao lado de Moisés, até a sua sucessão.
A relação de Moisés e Josué deve nos impressionar. O que me chama atenção é o nome dele sempre aparecendo no final de um verso, de maneira discreta, porém, através de todo um processo divino na condução de sua história diante do povo hebreu.
A história dos dois líderes deve produzir em nós uma consciência que entenda a importância de uma relação. Nem sempre o mais difícil é estabelecer uma relação, isso acontece de forma espontânea, mas mantê-la exige um esforço, dedicação, empenho. Outro aspecto que deve ser percebido nesse processo é o tempo. Como viver uma relação que não se desgastou depois de 40 anos? Inúmeras pessoas ficaram pelo caminho. Não foi algo que aconteceu em breve espaço de tempo, foram décadas de dedicação de uma vida para influenciar o seu sucessor. Numa longa caminhada assim, corremos sempre o risco de ver o jovem líder, muitas vezes, ser tentado a desistir. Mas Moisés e Josué, com ajuda de Deus, suportaram provações, tentações e aflições do caminho, sem desfalecer.
Estamos em um tempo que Zygmunt Bauman define como “Sociedade Liquida”, de relação liquida, de amor liquido. A sociedade líquida, ao contrário do que ocorreu durante o século XX, não pensa a longo prazo, não consegue traduzir seus desejos em um projeto de longa duração e de trabalho duro e intenso para a humanidade. Estamos diante de um desafio para a nova geração de líderes. Como viver um processo que exige tempo e uma relação intensa, diante de uma sociedade que produz uma consciência liquida?
Sem dúvida alguma, a longa caminhada requer perseverança, humildade e principalmente capacidade por parte do lider para conduzir o liderado a uma autonomia saudável no seu agir. Esta relação não pode ser passiva, onde o lider fala o tempo todo, apresenta projetos e dirige o liderado, mas têm que ser um ambiente de diálogo franco e aberto, que exige tempo de silêncio e de escuta, sem manipulação de ambas as partes. A partilha se faz necessária e indispensável. Lembrando que o melhor encontro, no entanto, será sempre o pessoal, olhos nos olhos.
O que é extraordinário no relacionamento entre Moisés e Josué, é que de um lado temos um legislador-libertador, e do outro lado, temos um militar-estrategista que se tornou general. Josué é chamado de servo de Moisés, que aponta para um aprendizado informal por estar perto, por conviver. Mas o que Moisés fez por Josué para influenciá-lo? Vamos pensar em 5 aplicações práticas neste processo:
1)   Em Êxodo 17:9, Moisés proporcionou a Josué uma oportunidade para liderar uma batalha. Oportunizou-lhe um trabalho na liderança, na área que era seu ponto forte. De fato, Moisés acreditou em Josué talvez antes mesmo dele mostrar seu valor na arte da guerra.
2)   Em Êxodo 24:13, Moisés leva Josué consigo por ocasião de receber os dez mandamentos no monte Sinai, como participante de um momento sublime. Moisés coloca Josué numa dinâmica de movimento rumo a uma experiência radical com Deus e o seu sobrenatural.
3)   Em Êxodo 32:17, Moisés corrige a perspectiva equivocada de Josué (confronto), revisando uma área em que ele precisava melhorar. O discipulado exige responsabilidade pessoal e ajuste constante da vida e da visão do Reino de Deus.
4)   Em Êxodo 33:11, Moisés serve de exemplo vivo para Josué quanto a aproximar-se mais de Deus. Josué observa de perto seu lider, numa vinculação exclusiva à sua pessoa. Assim, a construção de sua espiritualidade estava relacionada com a totalidade da realidade circundante. De um lado, Moisés possui uma natureza inteiramente humana, de outro, era um homem transcendente, que se alimentava da intimidade com o Senhor.
5)   Em Números 13:16, Moisés enviou Josué para uma missão importante, demonstrando ser ele, um homem de confiança. O jovem lider se mostra com disponibilidade total em vista da missão. Encontra-se aqui o princípio em que um homem verdadeiramente grande é aquele que faz os outros se sentirem grandes. Foi isso o que Moisés fez com Josué, ensinando-o a servir. O discipulado não se trata apenas de pensar uma experiência determinada, mas também de pensar o compromisso de transformação da realidade ao redor.
Deus nos abençoe em nossa jornada!